No confronto com o Jornal Nacional, Bolsonaro levou a melhor

Bolsonaro ficou cara a cara com William Bonner e Renata Vasconcellos no Jornal Nacional (Foto: Reprodução/Globo)

Foi ao ar nesta terça-feira (29) na Globo a segunda das entrevistas com os candidatos à Presidência no Jornal Nacional. O convidado da noite foi o polêmico deputado-federal Jair Bolsonaro, que disputa o cargo pelo PSL. No confronto com Willian Bonner e Renata Vasconcellos, o político levou a melhor. Muito disso em função da fraqueza e inexperiência dos apresentadores frente a frente com alguém complexo como Bolsonaro do que por mérito próprio do deputado. Vários pontos podem ser analisados para sustentar essa tese, vamos pegar alguns deles.

O primeiro é a parte em que o deputado foi questionado sobre algumas de suas frases consideradas homofóbicas. Bolsonaro seguiu direitinho o que vinha dizendo sempre que questionado sobre o assunto, alegando que sua luta nunca foi contra os homossexuais e sim contra o "kit-gay" que se planejava distribuir nas escolas. Cheguemos ao ponto em que o deputado tentou mostrar ao público o livro Aparelho sexual e Cia, pedindo para que os adultos tirassem as crianças da sala. Bonner logo deixou claro que Bolsonaro não poderia mostrar o material em função de uma regra que havia sido acordada entre os partidos e a direção do jornal que vetava a exibição de qualquer documento pelos candidatos durante a entrevista.

Para o deputado, ser impedido de mostrar o livreto em rede nacional caiu como uma luva. O público mais leigo achará que a grande motivação para esse impedimento foi o conteúdo do livro que chocaria as crianças. Isso se acentuou ainda mais com a frase de Renata, que alegou que o livro não poderia ser mostrado para as crianças. "Se ele não pode mostrar no JN, porque as crianças podem ver nas escolas?" é uma pergunta que pode ter sido feita por muita gente. Gente essa que não sabe, inclusive, que o livro mostrado por Bolsonaro nunca fez parte dos planos do MEC para ser distribuído nas escolas.


Outro ponto em que Bolsonaro se saiu vitorioso foi na discussão rotineira sobre seu apoio declarado à Ditadura Militar (1964 - 1985). O deputado se utilizou da mesma estratégia que traçou na GloboNews, de citar o próprio apoio da emissora ao regime dos militares. Bolsonaro, no entanto, não utiliza as palavras da instituição para confrontá-la, e sim as de seu fundador, Roberto Marinho, que defendeu abertamente o regime como uma "revolução" em editorial do O Globo. Mesmo que a emissora, após várias décadas, tenha se desculpado pelo apoio em outro editorial, as palavras do homem cuja história se confunde com a de sua criação não podem ser apagadas. Em vida, Roberto jamais voltou atrás ou declarou ter se arrependido do apoio aos militares. Bolsonaro confrontou Bonner ao questionar se Marinho era um "ditador ou um democrata". O âncora do jornal foi salvo pelo tempo.

Bolsonaro no estúdio do Jornal Nacional (Foto: Reprodução/Globo)
Por fim, até mesmo no pior momento de Bolsonaro na entrevista ele conseguiu se sobressair de certa forma. Em menores proporções que Renata Vasconcellos, evidentemente. O militar novamente teve problemas ao comentar a declaração polêmica sobre a igualdade salarial entre homens e mulheres e deduziu que o salário de Bonner é superior ao de sua colega de bancada. Renata deu uma resposta bastante incisiva e declarou que não aceitaria ganhar menos que um homem com a mesma função e que o salário dela não era de interesse público, o do deputado, sim.

Bolsonaro conseguiu cravar uma rápida resposta alegando que a Globo recebe dinheiro da União através da publicidade que exibe do governo. Ainda nesse ponto, faltou Renata explicar que não exerce a mesma função que Bonner no Jornal Nacional. Para o grande público, ambos são meramente apresentadores do telejornal, mesmo que fique explícito nos créditos do programa - ignorados pela maioria - que os dois acumulam funções diferentes na redação. 

O Jornal Nacional, como na segunda (27) com Ciro (PDT) e na quarta (29) com Alckmin (PSDB) acertou novamente no tom de confronto que sempre foi característico em entrevistas com presidenciáveis. Errou, no entanto, no teor das perguntas dirigidas a Bolsonaro. Foram praticamente as mesmas que ele já respondeu em suas dezenas de aparições pelo SuperPop e, mais recentemente, na repercutida sabatina do Roda Viva. Ou seja, Bolsonaro já tem as respostas para esses assuntos e perguntas na ponta da língua. Eu, por exemplo, já sabia com antecedência o que ele iria falar. Faltaram mais perguntas como a feita por Reinaldo Azevedo no debate da RedeTV!, que o colocou contra a parede em seu maior ponto fraco: a economia. 

Dessa forma, o jornal se saiu mais como um grande palanque do deputado, talvez o maior deles em toda a campanha. Com 8 segundos na propaganda eleitoral gratuita que começa amanhã (31), Bolsonaro conseguiu na sabatina do JN o que não vinha conseguindo nos debates: ser protagonista.  E ser protagonista ao comentar justamente os assuntos que o tornaram alguém expressivo no cenário político nacional.

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