Em defesa da diversidade na forma de produzir cinema


Texto de Matheus EiraHalessandra Araújo




Antes da presença intensa das plataformas de vídeos da internet na vida das pessoas, a solução para consumir produções cinematográficas no conforto de casa, sem ir a um cinema, era por meio das TVs por assinaturas, que ofertam uma grande variedade de filmes e séries, se comparado à TV aberta. 

Mas, no Brasil, notam-se quedas neste mercado, sendo uma possível causa as plataformas de streaming. As operadoras somavam 18,1 milhões de assinantes de TV em 2017, enquanto em 2018 foram 17,5 milhões, o que representa uma queda de 550 mil assinaturas e, até julho de 2019 os números continuam a diminuir, de acordo com a Anatel (Agência Nacional de Telecomunicações). 

Apesar da queda de assinaturas em TVs, está ocorrendo o mesmo fenômeno em uma das maiores plataformas de vídeos em streaming no mundo, a Netflix. Isso ocorre devido ao crescente número de plataformas similares. Segundo dados da Netflix, pode-se perceber que sua popularidade não está alta como nos dois anos anteriores, onde foi registrado no Brasil um aumento de 23% - de assinantes e não assinantes. Para os anos seguintes, o que se espera é que cresça menos de 9% entre junho de 2019 e junho de 2020, 4% em 2021 e 2,5% em 2022, de acordo com a eMarketer, consultoria de marketing digital.

Hoje, além da Netflix, os usuários da internet podem acessar outras plataformas de streaming por assinatura, como a Amazon Prime Video, uma das maiores concorrentes da Netflix, a HBO Go, derivada do canal de TV por assinatura, a Crackle, da Sony, etc. Uma das maiores companhias de mídia de massa do mundo, a Walt Disney, irá lançar a sua plataforma Disney+, com data prevista para o final do ano de 2019, inicialmente pretendendo conter produções próprias e também de terceiros, o que pode criar um novo grupo de usuários de streaming: Aqueles que, até então, costumam ir aos cinemas para assistir os filmes da Walt Disney.

Com muitas possibilidades de plataformas de vídeo em streaming, os preços variam e os usuários podem ter acesso a plataformas que custam, por mês, menos que um ingresso para uma sessão de cinema. Dessa forma, é possível ver esse novo modo de consumir sendo mais democrático, se for levada em conta uma comparação entre pessoas que já possuem acesso à internet.

O cerne do debate entre o cinema tradicional e o streaming é a questão do formato em que os filmes são exibidos. O diretor Steven Spielberg já disse em entrevistas que os filmes da Netflix deveriam concorrer ao Emmy, pois são filmes pensados para a TV. Esse é o principal debate existente hoje entre amantes do cinema e defensores das plataformas de vídeo. Como os dados acima apontam, o número de assinantes do streaming cresce a cada ano e cada vez mais plataformas estão surgindo. 

Estúdios de cinema como a Walt Disney e a Warner Bros já estão se preparando para ingressar no mercado com conteúdos exclusivos e um vasto catálogo recheado de seus clássicos. Então, fica claro que o streaming, futuramente, será um dos maiores segmentos da indústria de mídia. 

A tendência é que as salas de cinema sejam cada vez mais reservadas para os grandes blockbusters de ação e que filmes menos "atrativos" sejam jogados para as plataformas de vídeo ou ganhem lançamentos limitados em poucas salas de cinema. Aí reside um grande perigo, pois ao ceder ainda mais espaço para um tipo de conteúdo que já é bem popular, corre -se o risco de jogar os filmes de outros gêneros para escanteio e tornar a experiência cinematográfica pouco diversa para o público.

Todos os filmes que ocupam o top 10 de maiores bilheterias do ano são blockbusters de super-heróis ou remakes/continuações de franquias famosas. Logo, é muito importante que plataformas como a Netflix e a Amazon possuam, em seus catálogos, filmes dos mais diversos gêneros como drama, terror e comédia, pois está claro que no cenário atual da indústria há pouco espaço para filmes mais modestos. 

Portanto, o streaming oferece uma alternativa viável para os seus consumidores de uma variedade de filmes que podem não ser exibidos no cinema tradicional, mas que são tão autênticos quanto qualquer obra exibida na grande tela.