A Metade Sombria de Stephen King


 Post enviado pelo comentarista Tang


O autor Stephen King ainda hoje faz muito sucesso. É admirável sua capacidade de desenvolver perfeitamente seus personagens, e também de criar um universo inteiro para cada um de seus livros, isso surpreende qualquer leitor.


É impressionante que, para ele, escrever excelentes histórias parece ser muito fácil, Stephen King possui livros dos mais variados gêneros: foi injustamente intitulado como ''mestre do horror'', essa denominação não condiz com a realidade, pois, ao longo de sua extensa carreira ele escreveu romances dos mais variados gênero



Ele sempre escreveu num ritmo frenético, lançando vários livros por ano, nem mesmo a editora tinha capacidade de publicar todos os livros do autor, os editores tinham medo, pois o público podia ficar saturado do nome ''Stephen King'', (além de publicar vários romances por ano, suas obras eram constantemente adaptadas para o cinema e a televisão), os editores acreditavam que era melhor não publicar certos romances do autor, essas histórias por melhor que fossem, acabavam abandonadas na estante



Decepcionado por não poder publicar aquelas histórias, Stephen King pensou que seria uma boa ideia criar um pseudônimo, assim, o que não podia ser publicado com seu próprio nome, seria assinado por outro autor: por ele mesmo, mas com outra identidade, isso evitaria divergências com os editores. Outro fator contribuía para a criação de um pseudônimo, Stephen King percebeu que muitos de seus romances eram sucesso de vendas apenas porque foram assinados por ele próprio, e não por outro autor: após o sucesso absurdo de ''Carrie'' e de muitas outras obras, o público passou a comprar tudo o que ele escrevia, não pela história, mas pelo nome ''Stephen King'', feito o pseudônimo, ele poderia comprovar se o que ele escrevia fazia sucesso porque era bom, ou, se fazia sucesso porque tinha o nome ''King'' na capa do livro



Assim nasceu Richard Bachman, o pseudônimo de Stephen King, o autor passou a fazer uma jornada dupla de trabalho, publicando romances como ''King'' e ''Bachman'' ao mesmo tempo, os livros do King eram os mesmo de sempre, excelentes histórias de terror/suspense, construção de personagens incríveis e desenvolvimento de história que beiravam a perfeição, todos publicados com muito êxito; os livros de Bachman não eram tão bons quanto os do ''King'', o autor precisou diferenciar o estilo da escrita, isso fez com que as histórias ficassem inferiores ou não tão interessantes, os personagens eram ''frios'', cruéis e a atmosfera bem pesada. Não eram livros de grande sucesso



Os livros de Bachman eram interessantes, inferiores aos romances do King, mas isso não quer dizer que eram livros ruins, muito pelo contrário, o romance ''A Maldição do Cigano'', foi excelente, e possuí um dos finais mais incríveis já escrito por King/Bachman, pecou apenas no desenvolvimento. Outro excelente romance escrito por Bachman foi ''A Longa Marcha'' uma das primeiras obras no estilo ''distopia infantojuvenil'', na época não recebeu o devido reconhecimento, mas hoje em dia esse tipo de história faz muito sucesso, franquias como ''Jogos Vozares'' e ''Maze Runner'' foram grandes sucessos de bilheteria, ''A Longa Marcha'' também merecia esse mesmo sucesso



Bachman escreveu várias outras histórias, ''Os justiceiros'', ''O Concorrente'' e ''A Autoestrada'' foram algumas delas, acredito que não fizeram muito sucesso, mas posso dizer que mereciam pelo menos o mínimo de reconhecimento



O romance ''O Concorrente'', por exemplo, foi uma ótima distopia social, mostrando um reality show macabro, no estilo ''Topa tudo por dinheiro'',  o protagonista precisava fugir pelas ruas de Nova Iorque enquanto era vigiado pelos moradores da cidade: todo mundo era seu inimigo, pois, aquele que o denunciava para a produção do reality ganhava um prêmio em dinheiro, se o protagonista fosse pego por alguém, seria morto, mas se ele conseguisse sobreviver venceria o programa, e ganharia uma fortuna inimaginável: que os jogos comecem! Genial



Mas o pseudônimo de Stephen King não durou muito tempo, um bibliotecário, Steve Brown, acabou descobrindo algumas semelhanças entre a escrita do King com a do Bachman (por mais diferentes que fossem), Brown localizou registros da Biblioteca do Congresso e descobriu um documento nomeando ''King'' como o autor de um dos livros de Bachman: e assim ele descobriu toda a verdade. Stephen King ligou pessoalmente para Steve Brown se propondo a dar uma entrevista em um artigo, expondo para o público a morte de ''Bachman'', foi chamado de ''câncer do pseudônimo'', um artigo escrito pelo próprio Steve Brown, contando em detalhes como ele descobriu toda a verdade



A Metade Sombria foi publicado pelo King em 1989. A proposta era fazer uma analogia interessante entre ele e Bachman, no romance, o obscuro pseudônimo de um escritor cria uma vida própria.

 


''Thad Beaumont escreveu thrillers violentos sob o pseudônimo George Stark, conquistando fama e fortuna com os livros. Mas quando um jornalista ameaça expor seu segredo, o escritor decide ir a público primeiro e ''mata'' George Stark de forma teatral, e definitiva, em um artigo de revista.

 

No entanto, Stark não aceita ser despachado tão facilmente e volta á vida para caçar os responsáveis por seu desaparecimento. Coisas estranhas e brutais começam a acontecer com os envolvidos em sua morte fictícia, mas as digitais encontradas na cena dos crimes são bastante reais - e pertencem a Thad Beaumont.''

 

Foi uma leitura interessante, de certo modo podemos perceber várias semelhanças entre Thad Beaumont com o próprio Stephen King, isso porque o autor imprimiu em seu protagonista muitas características de sua vida pessoal: a começar por sua relação conturbada com o pai, que o abandonou quando ele ainda era um bebê de colo, o pai de Thad também não era um cara legal. A esposa de Thad, Liz, é também sua companheira de trabalho, assim como a esposa de King, Tabitha, que sempre deu apoio a ele, muito antes do King virar um autor de grande sucesso Tabitha já estava ao seu lado. Essas e várias outras semelhanças podem ser percebidas pelos leitores mais atentos.

 

Mas nem tudo são flores, o livro é muito lendo, Stephen King peca bastante no excesso de descrições, ás vezes é desnecessário e cansa o leitor. A presença de Alan Pangborn é descartável, ele é o xerife de Castle Rock e ficou encarregado de investigar os assassinatos cometidos por George Stark, mas Alan passou mais da metade do livro desacreditando que o pseudônimo de Thad criara vida própria e estava matando aquelas pessoas, enquanto isso, o macabro Stark estava cada vez mais perto de cumprir seu objetivo: chegar até Thad Beaumont e o obrigar a escrever um novo livro.

 

Alan Pangborn demorou tanto tempo para descobrir a verdade, que essa ''verdade'' já não era mais necessária, George Stark já chegara até Thad e sua família.

 

Um ponto positivo nessa história é o próprio George Stark, ele é de fato a metade sombria de Thad, não tem o menor pudor, é capaz de fazer mal até mesmo para uma criança, se ele tiver que fazer isso para cumprir seu objetivo, ele vai fazer! Stark tem sempre uma resposta irônica na ponta da língua, com tiradas engraçadas e sarcásticas, a presença dele na história foi o que salvou minha leitura do marasmo total, sem George Stark, esse livro seria bem ruim.

 

É interessante ler esse livro sabendo que aqui podemos encontrar dois estilos diferentes de escrita: tem o estilo clássico do King, na vida de Thad, e o estilo sombrio de Bachman, na ''morte'' de Stark. Os assassinatos nessa história são extremamente violentos e gráficos, não encontramos esse ''estilo'' em livros comuns do King, mas é possível encontrar essa mesma violência em livros de Bachman.

 

King fez uma exitosa parceria com sua ''metade sombria'', Richard Bachman, para desenvolver a escrita desse livro. É admirável a genialidade desse homem.

 

Edição especial: biblioteca Stephen King

 

A suma de Letras está lançando os livros ''esgotados'' do King no Brasil. São edições raras que já não podiam ser encontradas nas livrarias aqui no país, mesmo em cidades grandes. Agora nós temos a oportunidade de conhecer essas obras incríveis, numa edição mais que especial, em capa dura, south touch, alto-relevo e conteúdo extra (um ótimo texto escrito pelo próprio King explicando a 'importância de ser Bachman'', me ajudou a escrever essa resenha).


A Metade Sombria, nota: 4,5