Crítica | Mortal Kombat (HBO Max, 2021)

Novo reboot de Mortal Kombat é um fan service mal executado.

Mortal Kombat é uma das franquias de videogame mais bem sucedidas da história, influenciando toda uma geração de novos jogos a explorar temáticas violentas. O primeiro jogo foi lançado em 1992 pela Midway Games e rapidamente se tornou campeão de vendas ao redor do mundo, garantindo inúmeras sequências ao longo dos anos. A história idealizada por Ed Boon e John Tobias é uma mistura de ação com fantasia que mostra uma disputa entre diferentes dimensões pelo controle do planeta Terra. Para evitar um apocalipse, os Deuses Antigos determinaram que a cada geração, um torneio de artes marciais fosse realizado e após dez vitórias, o reino perdedor poderia ser conquistado pelo vencedor.

É dessa premissa básica que 'Mortal Kombat' constrói sua trama, um filme que tem muitos equívocos, mas diverte com sua simplicidade. Dirigida pelo estreante Simon McQuoid, essa nova adaptação para os cinemas está mais interessada em explorar a nostalgia dos fãs dos jogos que em contar uma história que faça sentido para o público leigo. O roteiro escrito por Greg Russo e Dave Callaham é apressado na introdução dos personagens e trabalha com muitos clichês bobos sobre predestinação. Os diálogos também são problemáticos, não há possibilidade de alguém comprar a canastrice das falas, até os atores parecem desconfortáveis nas cenas.

O filme abre com um prelúdio da história de Hanzo Hasashi (Hiroyuki Sanada) no antigo Japão e foca no massacre que sua família sofreu nas mãos do assassino mercenário Bi-Han (Joe Taslim). Logo no início, é perceptível essa pressa do texto em seguir com a trama, não há tempo para que o público se envolva na perda de Hanzo, não sabemos quem é ele ou porquê está sendo atacado. Quem não conhece a história do personagem nos jogos ficará confuso, algo que é recorrente durante os 110 minutos de duração da obra.

Após essa breve disputa, somos apresentados a Cole Young (Lewis Tan), um pai de família que para ganhar dinheiro, aceita lutar combates difíceis, mas não é bem pago para isso. Vale lembrar que Cole é um personagem original do filme, portanto, não existe nos jogos. O desenvolvimento dele é pobre para dizer o mínimo, não existe personalidade ou carisma nesse personagem. Aliás, esse defeito se estende a quase todos os personagens do filme, todos estão presentes na história por fazerem parte da mitologia dos jogos, mas não há um desenvolvimento próprio para cada um.

O roteiro joga nas mãos do destino a sorte de Sonya Blade (Jessica NcNamee), Kano (Josh Lawson), Liu Kang (Ludi Lin), Kung Lao (Max Hunag) e Jax (Mehcad Brooks). É usada a ideia de que para lutar no torneio, os escolhidos devem portar a marca do dragão, uma espécie de totem mágico que lhes dá poderes para lutar contra inimigos poderosos. A partir daí, se inicia a jornada clichê sobre libertar um poder oculto com a força do coração, o que até não seria ruim, se os personagens realmente passassem por uma experiência significativa para alcançar tal poder, mas não é assim. Toda a parte do treinamento é apressada, não há um trabalho na dinâmica do grupo e as resoluções são extremamente preguiçosas.

Basta observar a inexistência de um perigo real, já que quando os lutadores ativam seus poderes, o conflito é resolvido. Isso tirou o propósito de ter um indivíduo especial para liderar o grupo, já que basta matar alguém portador da marca e você se torna um escolhido. Essa escolha do roteiro de profecias e escolhidos não foi assertiva, pois tirou o desenvolvimento que os personagens poderiam ter com o esforço para progredir, afinal, se a pessoa está predestinada, não existe motivo para preocupação, já que a vitória é certa.

Apesar do roteiro capenga, não há o que se pode chamar de atuações ruins. Todos os atores cumprem bem seus papéis dentro do que cada personagem exige, por exemplo, Josh Lawson porta-se como uma babaca para refletir a frivolidade agressiva de Kano enquanto Jessica McNamee dá carisma e força a Sonya Blade. O Lord Raiden de Tanodobo Asano é uma figura que impõe respeito e sabedoria como todo mentor, os únicos personagens que não dizem a que vieram são Kung Lao, Jax e Liu Kang. Aliás, esse último é tão afetado pelo problema dos diálogos que age como uma espécie de robô messiânico, soltando frases motivacionais telegrafadas para fazer exposição barata.

Nos aspectos técnicos, o filme não faz feio, apesar de alguns deslizes. As cenas de ação são bem dirigidas, o diretor soube movimentar a câmera para pegar o melhor ângulo das cenas de combate, evitando o uso de muitos cortes. A violência característica dos jogos está presente, os "fatalities" são como chamam os golpes de luta que visam matar o oponente de modo visceral com muito sangue e escatologia visual. As cenas em que esse recurso é utilizado são bastante divertidas, mas faltou uma dificuldade nos combates para que as mortes fossem mais satisfatórias de assistir.

Visualmente, a fotografia é agradável, o uso das cores que representam cada personagem nas cenas é um recurso nostálgico que funciona. Nas lutas de Sub-Zero, o tom da iluminação fica mais azulado e assim por diante com cada luta mostrada. Por outro lado, os cenários são demasiadamente simples, o que pode ser visto de duas formas, falta de dinheiro para construções mais elaboradas ou o diretor quis investir na degradação do ambiente para realçar o tom de urgência pedido pela premissa. A trilha sonora de Benjamin Wallfisch segue uma linha de batidas eletrônicas com muitos instrumentos de percussão para criar temas musicais que emulam o technopop.

Se você notou que não citei os vilões, não se preocupe. Shang-Tsung (Chi-Han) e sua trupe de lacaios estão no filme apenas para brigar, pois, não possuem o menor traço de personalidade que valha ser mencionado.

'Mortal Kombat' falha em muitos aspectos, mas garante uma diversão descompromissada.

Nota: 4,5