Os perpetradores do "genocídio" negro

Um texto de Pauloncé 

Anualmente o IPEA em conjunto com o Fórum de Segurança Pública revela dados do número de homicídios e o que sempre se constata é que a violência atinge principalmente a população negra. Em 2019 77% das vítimas eram negras (pretas e pardas). A taxa foi de 29,2 para cada 100 mil habitantes. Já a de não-negros foi bem inferior, 11,2 para cada 100 mil.

O Atlas da violência revelou que negros possuem 2,6 vezes mais chances de serem assassinados do que não-negros. Quando se faz um corte de gênero percebe-se que a mulher negra também é a maior vítima de homicídios. São 66% delas mortas só  no último registro. Isso nos dá uma taxa de 4,1 para cada 100 mil contra 2,5 para não-negras.

Esse alto índice de vitimização é chamado por ativistas do movimento de genocídio negro. Bem, para entendermos isso vale entender o que significa esse termo. A palavra genocídio deriva da junção de geno-, do grego "genus", que significa raça, e do sufixo -cídio, do latim "caedere", com sentido de matar. Logo conclui-se que genocídio é um massacre intencional a fim de exterminar uma população, nesse caso aqui seria a população negra.

Esse termo geralmente associado a ações policiais desastrosas que resultam na morte de inocentes. Como exemplos temos o caso da Agatha Felix, de 8 anos,  morta com um tiro de fuzil no complexo do Alemão em 2019. E do adolescente João Pedro, de 14 anos, assassinado dentro de sua casa. Essas mortes ainda mais por se tratar de crianças geram muita comoção e indignação e sempre reacende o movimento Vidas Negras Importam, movimento que pede respeito a vida e integridade de pessoas negras. Logo o assunto passa a ser discutido novamente. 

É importante ter equilíbrio ao discutir problemas tão sensíveis como esse. Observa-se que faz se uma associação de acontecimentos que resultam na morte de inocentes com o total de mortes negras que os relatórios apresentam. E isso deixa o leitor, telespectador e ouvinte com a ideia de que todos os negros estão sendo mortos pela polícia. É fato que os negros são a maioria das vítimas de intervenção policial. Mais também são maioria em lesão corporal seguida de morte, latrocínio e homicídio doloso. Apenas para comparar números, em 2020 foram  50.033 assassinatos, desses 6.416 foram causados pela polícia. Isso representa 12,8 do total. Logo, surge a pergunta: Quem causou o resto do morticínio?

O aclamado diretor de cinema Spike Lee colocou o dedo na ferida ao dirigir o filme Chi-Req, o título equipara a cidade de Chicago com o Iraque devido ao alto número de homicídios e é claro de negros. Mas a história pontua que tudo isso é causada pelos constantes conflitos de gangues que são formados por negros. Aqui no Brasil não é muito diferente. O Comando Vermelho e o PCC já travaram inúmeros conflitos que resultaram em sangue e cadáveres espalhados. Há ainda outras facções pelo país que disputam as rotas do tráfico de drogas. Essa luta pelo domínio de território impacta diretamente no número de mortes. Em 2019 a ONU divulgou que o Brasil era o segundo país mais violento da América do Sul, atrás apenas da Venezuela. E uma matéria da BBC News Brasil do mesmo ano, afirmou que "grupos violentos podem influenciar de 25% a 70% de todos os homicídios na região." Isso tudo devido a disputa pelo narcotráfico e é claro o nosso país também está envolvido nisso.

Como podemos perceber o assunto é mais complexo do que se imagina, mais o audiovisual brasileiro já nos mostrou como se dá a violência desenfreada no país e como as instituições contribuem para isso. Basta assistir os filmes Cidade de Deus e Tropa de Elite, nessas obras vemos O Zé Pequeno, que exemplifica a violência de quem está à margem da lei, é um traficante sádico que mata pessoas sem piedade. No outro temos O Capitão Nascimento que age de forma violenta com seus algozes criminosos. Ambos representam muito bem os perpetradores do Genocídio Negro, mas afirmo em dizer que ninguém representa mais que o primeiro. right-sidebar