O Impacto do Escândalo da Clínica Tavistock na Atualidade

O livro Time To Think, de Hannah Barnes, realiza uma análise detalhada do serviço de referência global no tratamento da disforia de gênero. Barnes explora como uma combinação de pressões sociais, ideológicas e profissionais levou ao colapso desse serviço, levantando questões cruciais sobre ética médica, bem-estar infantil e a politização da ciência na contemporaneidade.



O serviço GIDS (Gender Identity Development Service) foi fundado na Tavistock And Portman NHS Foundation Trust em 1989, no sul de Londres, em um contexto de crescente compreensão sobre transidentidade. Inicialmente, o atendimento visava oferecer apoio psicológico e terapêutico a jovens que enfrentavam questões relacionadas à sua identidade. Criado pelo psiquiatra infantil e adolescente Dr. Domenico Di Ceglie, a ideia surgiu a partir da experiência de um caso nos anos de 1980, no qual um adolescente que se identificava como menino, mas que estava “preso” em um corpo feminino.


Na década de 1990, cerca de 5% dos jovens atendidos se comprometiam com uma mudança de gênero. As intervenções procedimentais estavam disponíveis, mas somente se critérios rigorosos fossem atendidos, incluindo de idade. Foi um início tímido, com muitos usos de bloqueadores hormonais também sendo off-label, e pouco se sabia sobre seus efeitos a longo prazo. No entanto, no final dos anos 2000 e ao longo da década de 2010, notou-se um crescimento exponencial na incidência de crianças diagnosticadas com disforia de gênero. 


Em 2009-10, o GIDS atendeu 97 crianças, quantidade que saltou para 1.419 em 2015-16. O número de pacientes do sexo feminino cresceu de 32 em 2009-10 para 1.981 em 2019-20. Esse aumento significativo ocorreu em um contexto de mudanças terminológicas da condição. Em 2013, a quinta edição do DSM (Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais) substituiu o termo Transtorno de Identidade de Gênero por Disforia de Gênero, alterando a classificação de transtorno para distúrbio. Em 2018, a CID-11 (Classificação Estatística Internacional de Doenças e Problemas Relacionados à Saúde, 11ª edição) retirou o Transtorno de Identidade de Gênero da lista de transtornos mentais e o relocou para a seção de Condições Relativas à Saúde Sexual, subdividido em três categorias de Incongruência de Gênero. 


Este seguimento, inevitavelmente, atingiu os compostos, com certos medicamentos usados nunca tendo sido aprovados para o propósito transitório de gênero. Barnes menciona que os agonistas do hormônio liberador de gonadotrofina (GnRHa) são predominantemente usados para tratar câncer de próstata em homens — além de serem empregados no tratamento da endometriose em mulheres. O acesso a esses fármacos passou de uma abordagem baseada na idade para uma focada no estágio de puberdade. Dessa forma, crianças que atingissem o estágio inicial da puberdade — a partir dos oito ou nove anos — poderiam ser encaminhadas para o uso de inibidores hormonais sem maiores restrições.


Devido ao aumento considerável no número de pacientes, o tempo disponível para cada avaliação foi reduzido, levando a análises menos detalhadas e decisões apressadas. Com as salas de espera sobrecarregadas, observou-se a presença de muitos adolescentes trans masculinos autodiagnosticados, que compartilhavam histórias e cortes de cabelo semelhantes. Muitos também haviam escolhido o mesmo nome, geralmente inspirado em seus YouTubers trans favoritos.


Para algumas crianças, a suposta disforia de gênero parecia ter sido precedida por um evento traumático, como a perda de um ente querido ou uma ameaça de agressão sexual. Para outras, a “identificação trans” decorria após enfrentar bullying homofóbico e sair como gay ou lésbica da ocasião. Essa correlação era tão comum que o Dr. Matt Bristow, um psicólogo clínico do GIDS, passou a ver o serviço como uma forma de “terapia de conversão para adolescentes gays”. 


Esta polêmica alegação foi fortemente negada pelos responsáveis do serviço, porém é parcialmente sustentada pelos dados disponíveis. Em 2012, quando o GIDS perguntou aos adolescentes mais velhos sobre suas atrações, quase 90% das meninas disseram ser atraídas por pessoas do mesmo sexo ou serem bissexuais (67,6% e 21,1%, respectivamente). Entre os meninos, 80,8% relataram atração por pessoas do mesmo sexo ou bissexuais (42,3% e 38,5%, respectivamente).



“(...) Pode ser inacreditável para alguns que os pais prefeririam uma criança trans a uma criança gay, mas vários clínicos confirmam que, embora raro, isso acontecia. Um descreveu um pai ponderando abertamente qual seria o "melhor" resultado para seu filho — um homem gay ou uma mulher trans. Outro disse que havia famílias que não podiam "tolerar" seus filhos sendo gays: "a criança então via a transição como uma saída desse dilema, e a família pressionava a criança a seguir esse caminho” 



Profissionais de outros países também observaram padrões similares em relação a avaliações inconclusivas. A Dr. Lisa Littman, pesquisadora e psicóloga, relatou em artigos que fatores externos — descritos como Rapid Onset Gender Dysphoria (ROGD) — estavam influenciando autodiagnósticos nos Estados Unidos. Littman sugeriu que a ROGD poderia estar associado a grupos de amigos e influências de mídia social, com pré-adolescentes sendo potencialmente “contagiados socialmente” para se identificarem como transgêneros. Jovens com típicos problemas relacionados à puberdade eram inadvertidame incitados ao diagnóstico de disforia de gênero.


Funcionários do GIDS expressaram suas afiliações em todos os fóruns disponíveis e continuaram a fazê-lo ao longo dos anos, mesmo após deixarem o serviço, na tentativa de pressionar a liderança a tomar providências. Entretanto, duas coisas geralmente aconteciam: muita discussão sem ação efetiva e a transformação dos críticos em bodes expiatórios, rotulados como “causadores de problemas”. A maioria dos que se manifestaram, assim como aqueles que os apoiaram ou amplificaram suas preocupações, acabou sendo forçada a deixar as instalações do Tavistock Centre. 


Em 2018, David Bell, um psiquiatra e ex-membro do Tavistock Trust, publicou um exame crítico sobre a prescrição de bloqueadores hormonais para menores de idade. Seu trabalho ganhou notoriedade após o caso de Keira Bell, uma paciente do GIDS que manifestou arrependimento por sua transição. Este caso levou a um julgamento que suspendeu provisoriamente as intervenções clínicas até que as questões éticas fossem devidamente abordadas. As consequências desses “métodos experimentais” foram devastadoras para muitos adolescentes. 



Um dos maiores arrependimentos da minha vida foi ter usado bloqueadores hormonais,” diz Jacob. “Eu os usei porque estava apavorado com a possibilidade da puberdade.” Ele afirma que o GIDS deveria tê-lo preparado melhor para essa decisão, “em vez de simplesmente me prescrever essa medicação. Eu era uma criança,” continua Jacob. “Ainda não sei completamente como isso me afetou. Não sei a extensão do dano que isso pode ter causado ao meu corpo, e isso é assustador



A autora adentra em um campo tortuoso e discute a interferência de grupos de apoio a pacientes, como a instituição de caridade transgênera Mermaids e a Gender Identity Research And Education Society, que promoviam uma narrativa afirmativa sobre a identidade de gênero. Esses grupos exerceram pressão sobre os profissionais para que priorizassem a validação da identidade de gênero em detrimento de uma avaliação clínica mais abrangente, pressionado para que disponibilizassem bloqueadores em idades mais jovens. Essa dinâmica resultou em um ambiente onde as preocupações com a saúde mental dos adolescentes eram subordinadas às demandas do ativismo. 


Em 2022, uma investigação do jornal The Telegraph revelou que a organização trans Mermaids estava fornecendo dispositivos potencialmente perigosos para achatamento do peito a adolescentes de 14 anos. Apesar da objeção da mãe de uma das meninas, a Mermaids, que recebia financiamento público e oferecia treinamento para escolas e para o National Health Service (NHS), enviou um binder de seios a ela. As evidências mostraram que a Mermaids continuava a fornecer esses produtos mesmo após receber negativas dos pais, além de promover práticas que podiam causar danos físicos e comprometer a saúde mental de menores de idade. 


A crise no GIDS culminou com seu fechamento após a publicação de um relatório pela pediatra Dra. Hilary Cass. Cass observou que muitos funcionários do NHS relataram sentir-se pressionados a adotar uma abordagem afirmativa de gênero sem questionamentos — o que contrariava processo padrão de avaliação clínica e diagnóstico para o qual foram treinados em todos os atendimentos. Esse relatório foi um marco, destacando para o mundo a necessidade urgente de uma revisão sistemática do tratamento de pessoas com disforia de gênero. Ademais, um estudo independente revelou que aproximadamente 97,5% dos menores atendidos no GIDS apresentavam alterações psicológicas, e 70% deles sofriam de pelo menos cinco disfunções simultaneamente, incluindo ansiedade, depressão, abuso, automutilação, bullying, transtornos alimentares e tentativas de suicídio.  



Acho que o maior arrependimento é pela voz e pelo peito — os principais — e, ironicamente, são justamente as partes que não podem ser mudadas”, diz ela. (...) "Suponho que haja raiva," diz Harriet suavemente. "Não sou uma pessoa muito raivosa. Mas acho que é a frustração por haver coisas óbvias que deveriam ter sido percebidas e não foram, e a ideia de como as coisas poderiam ser diferentes. Acho que o que mais me irrita é como isso afetou outras partes da minha vida, como minha educação, meus relacionamentos, tudo, porque isso toca em tudo"



Os emocionantes relatos das testemunhas são intercalados com dados e análises que ilustram a magnitude do problema. A obra não é apenas uma crítica ao GIDS e suas negligências médicas, mas também um apelo à reflexão sobre como a sociedade enxerga questões de identidade de gênero em populações vulneráveis. Adotando a perspectiva de uma personagem autodiegética, Hannah Barnes detalha o colapso do serviço, apresentando-o como uma oportunidade para repensar a maneira como lidamos com o imponderável. 



Necessidade avaliações éticas 


O livro gerou reações inflamadas. As pessoas se dividiram em suas respectivas bolhas, sobretudo no âmbito político. É válido considerar que muitos dos profissionais envolvidos possam ter tido viés politizado, dado que, ao longo das 456 páginas, a obra apresenta uma base sólida que fundamenta essa afirmação. Contudo, resumir todo esse infeliz acontecimento apenas sob uma lente é reducionista. Profissionais de saúde são humanos e, como tal, estão sujeitos a erros técnicos e influências sociais, não somente a fatores resultantes de uma visão politicamente enviesada. Apesar de isso não diminuir suas falhas nem isentar a presença de fatores ideológicos, ajuda a proporcionar maior racionalização dos eventos.  


Os equívocos do GIDS também esteve relacionado com às constantes tentativas das autoridades competentes de conciliar abordagens conflitantes. A antiga classificação de Transtorno de Identidade de Gênero (TIG) refletia uma compreensão médica mais assertiva, tratando a incongruência de gênero como um possível caso clínico com sintomas psiquiátricos associados. Isso cooperava no encaminhamento para prováveis tratos multidisciplinares e a identificação de comorbidades, que podem ser intensas em indivíduos com essa condição. Além do mais, o TIG poderia ser uma ferramenta eficaz na diferenciação de questões temporárias relacionadas à identidade e à sexualidade. A psicóloga especializada em disforia de gênero, Jiska Ristori, revelou que aproximadamente 85% das crianças que passam por desconforto de gênero superam esse sentimento durante a puberdade e acabam se identificando como homossexuais. 


A mudança terminológica para Disforia de Gênero (DG), embora reconheça intricadas nuances teóricas, na prática parece ter como principal objetivo criar um ambiente menos estigmatizante, deixando de considerar adequadamente as decorrências da inconformidade de gênero. Essa abordagem pode reduzir a percepção da gravidade das condições, dificultar o acesso a atendimentos especializados, fragmentar os cuidados e subestimar a complexidade das carências de saúde mental dos pacientes. Críticas ao DSM-5 e à CID-11 por diagnósticos insuficientes e aumento de casos entre adolescentes destacam a necessidade de uma revisão holística das diretrizes responsáveis. 


Outra questão recorrente observada na clínica Tavistock foi a tendência de psicopatologização dos estereótipos de gênero. Essa percepção, agravada em grande medida por espúrias teses socioconstrutivistas do século XX, há tempos afetou as ciências médicas. É necessário diminuir a percepção dos estereótipos comportamentais relacionados à infância, promovendo tanto a compreensão de que o sexo é uma característica imutável quanto a aceitação de que meninos e meninas podem adotar comportamentos não convencionais sem que isso implique na ideia incorreta de que nasceram no corpo errado. Minha prima cresceu com primos, brincando com brinquedos que consideram típicos masculinos e frequentemente se identificando como um menino. Hoje, aos trinta anos, ela certamente seria a última pessoa a afirmar que é um homem. Transformar inocentes comportamentos infantis em algo que deve ser tratado medicamente é patologizar um aspecto natural da expressão humana.


Reverter simplesmente para a nomenclatura anterior ou realizar uma total despatologização não são soluções eficientes para o problema. Pesquisas indicam que o processo envolve uma série de fatores psicossociais inter-relacionados. Essa dificuldade está indiretamente relacionada ao fato de que, ao aceitar que a identidade de gênero (não me refiro a recombinações genéticas) se sobrepõe ao sexo, qualquer intervenção deve priorizar a “afirmação” dessa identidade, em vez de investigar suas causas subjacentes ou origens. Essa inversão do significado clínico usual das informações objetivas é preocupante por ocorrer sem o devido respaldo de dados de alta qualidade que comprovem os benefícios, riscos e potenciais danos das intervenções propostas. Como a identidade de gênero é autodeterminada, ela não pode ser mensurada, quantificada ou contestada. A incerteza científica não deve servir como uma brecha para a imposição de incomprovações.


Diante deste quadro, é essencial adotar uma postura prudente, com profissionais auxiliando os indivíduos a amadurecerem em harmonia com seus corpos, em vez de meramente implementar tratamentos experimentais para remodelá-los. Os anseios relacionados à própria identidade durante determinadas fases do desenvolvimento podem ser comuns e passageiros. Estudos mostram que entre 75% e 95% das crianças e adolescentes superam a confusão sobre gênero ao final da puberdade. Incitar intervenções inapropriadas pode ser perigosíssimo. De acordo com dados de Michelle Cretella, pediatra e presidente da American College Of Pediatricians (ACP), a taxa de suicídio entre adultos que realizam cirurgia de redesignação sexual pode chegar a até vinte vezes maior do que na população geral. Não por acaso, a ACP considera abuso infantil iniciar terapia com bloqueadores hormonais ou fazer cirurgia de redesignação sexual antes do final da adolescência. 


Embora possa ter etiologias diversas, a disforia de gênero é principalmente uma condição psicológica caracterizada por um desconforto significativo devido à discordância entre o gênero com o qual a pessoa se identifica e o sexo atribuído ao nascer. Neste caso, o processo de aceitação do sexo biológico pode se revelar ineficaz, tornando premente buscar alternativas, o que pode incluir a transição. Felizmente, hoje a pesquisa moderna tem avançado e proporcionado meios para ajudar essas pessoas a alcançarem uma vida digna. Além disso, essa questão também é relevante em cenários atípicos de variações nas características sexuais. Casos de intersexuais, como Herculine Barbin, por exemplo, demonstram como um diagnóstico incorreto pode ser terrível. 


Por outro lado, é igualmente imperatório que evidências científicas permanecam imunes a inferências passionalizadas. A medicina, em sua essência, é uma prática destinada a previnir, restaurar e manter o funcionamento saudável do indivíduo, e não simplesmente a satisfazer as vontades do mesmo. Embora haja cenários que possam justificar exceções — assim como o equilíbrio entre a compreensão da autogestão do paciente e as inspeções clínicas — nosso dever ético a priori é seguir os quatro pilares da ética médica (autonomia, não-maleficência, justiça e beneficência) e assegurar que todas as decisões sejam guiadas pelo respeito à integridade e resguardo do indivíduo.



Fundamentalismo à esquerda


Notoriamente, o impacto das influências ideológicas nesse fatídico evento foi significativo. O controverso termo “ideologia de gênero” está diretamente associado a essa situação. Recentemente, li um livro chamado Arquipélago Gulag, onde Aleksandr Solzhenitsyn estabeleceu uma simples e interessante definição de ideologia. Segundo o escritor, ideologia é um tipo de “teoria social” que oferece justificativa desejada para o crime e a determinação necessária ao criminoso, permitindo-lhe absolver-se diante de si e dos outros por seus atos, recebendo não críticas, mas elogios e aceitação.


Se removermos certas conotações formulaicas associadas, um termo pode cumprir seu propósito de examinar as influências em uma sociedade. Em síntese, ideologia pode ser entendida como um sistema de crenças, valores e ideias que orientam a visão de mundo de um indivíduo ou grupo acerca de objetivos. Geralmente, fornece pretexto teórico e prático para suas ações. Dependendo de como a visão de mundo é aplicada, pode haver diferentes formas de implementação, incluindo o uso de coerção ou violência a partir da negação da realidade material. 


Um dos muitos debates que tive com minha mãe foi justamente sobre a validade de classificar ou não as religiões abraâmicas como ideologias. Se retirar o aspecto metafísico e cultural do cristianismo, por exemplo, e centrar estritamente nos seus princípios, ele também poderia ser considerado um tipo de ideologia. Isso porque, mesmo sem a dimensão espiritual, a religião cristã ainda oferece um conjunto de crenças e valores que orientam a cosmovisão e as ações dos seus seguidores.


É um fato que o tema da ideologia de gênero está politizado e, muitas vezes, utilizado para fins preconceituosos, mas é crucial saber distinguir a verdadeira natureza das ações. Devaneios conspiracionistas não devem ser confundidos com concretudes que estão acontecendo diante de nossos olhos. Além de Time To Think, livros como Irreversible Damage, Trans: When Ideology Meets Reality, Material Girls e o When Harry Became Sally, destacam como essas questões estão impactando as famílias, tanto emocional quanto financeiramente. Segundo a jornalista investigativa Jennifer Bilek, nos Estados Unidos, se apenas 100 crianças utilizarem bloqueadores de puberdade por um período médio de 7 anos — a duração típica do “tratamento”— o custo total será de 27 milhões de dólares. 


As teses de gênero, como a performatividade de Judith Butler, que propõem até o sexo como uma construção social, são altamente problemáticas. Muitos Ativistas têm adotado essas ideias com tanto fervor que transformaram o gênero em uma crença tão metafísica quanto o fideísmo. Em termos comparativos, ambos partem de uma premissa emocional que nega a realidade material em prol de uma visão preconcebida. Se lembram de quando, no Período Medieval, a religião era colocada acima da ciência em áreas onde não deveria? Hoje, algo semelhante ocorre: a figura de um Deus intransigente foi substituída por uma abstração dogmática, o gênero, que busca suplantar ou preencher lacunas científicas com base em pieguismo. 


Em vez de buscar estabelecer uma base sólida de comprovações para suas alegações, os fideístas de gênero se concentram em persuadir empresas, partidos políticos e grandes instituições a adotar a identidade de gênero como o único critério para determinar se uma pessoa é homem, mulher, ambos ou nenhum, em detrimento de quaisquer objetividades. Usando um tipo de bastardização da linguagem, eles exigem que todos indiquem seus “pronomes preferidos”, que podem incluir não apenas ele/dele e ela/dela, mas também pronomes neutros, considerando o não uso desses pronomes como um “erro de gênero”. Para esses militantes, o princípio cartesiano “penso, logo existo” foi substituído por “penso, logo, sou o que eu quiser ser; portanto, quem discorda de mim é preconceituoso e deve ser execrado”.  


Para notar a gravidade disso, é preciso sair do viés confirmatório, algo que pode ser dificílimo. Afinal, “zona de conforto” recebe esse título por um motivo. Quando estamos inertes em nossas redomas particulares, tendemos a esquecer que o mal pode surgir de todos os lados, inclusive o que estamos ou simpatizamos. Nos tornamos vítimas de nossa própria ignorância no momento em que deixamos de compreender o que está acontecendo ao nosso redor. Um exemplo de ser vítima de si é a tendência de parte da mídia mainstream em combater com maior afinco apenas a famigerada extrema-direita-radical-fundamentalista. Embora seja necessário confrontar com rigor as nocivas ideias extremistas à direita, não se pode tratar os extremos com seletividade. Alimentar um lado pode, a longo prazo, fortalecer um monstro que se voltará contra você mesmo. Se realmente desejam opor-se aos radicais, devem começar por enfrentar também o negacionismo que ignora ou atenua o extremismo de qualquer lado. 



Como sociedade e espécie, é essencial buscarmos constantemente o progresso. Apesar de a prática política ter dedurpado essa palavra, seu significado semântico continua a ser primordial para o avanço social. Assim, por vezes, o progressismo e o conservadorismo podem simbolicamente atuar como forças complementares. Todavia, neste momento, não se trata de progresso; estamos presenciado maquinações de imposições sociais que precisam ser veementemente combatidas. Essas ideias extremistas promovidas por ativismos tóxicos têm contribuído para a degradação do tecido ocidental em proporções incomensuráveis.




Links Com Informações Complementares 


- Disforia de gênero está aumentando — e a discordância profissional também



- Disforia de gênero de início rápido: relatório de pais sobre 1. 655 casos possíveis



Validade do diagnóstico de Disforia de Gênero e tendências de incidência na Suécia



- Destransição e desistência entre jovens adultos previamente identificados como trans



- Indivíduos tratados para disforia de gênero com transição médica e/ou cirúrgica que posteriormente desistiram: Uma pesquisa com 100 desistentes



Entrevista com Hannah Barnes, autora do livro 'Time To Think'



- Organização de caridade trans Mermaids fornece achatamento de seio para crianças sem o conhecimento dos pais



- A cultura do cancelamento está impedindo as vítimas da Clínica Tavistock de se manifestarem



- 85% das crianças que experimentam disforia de gênero acabam desistindo desses sentimentos na puberdade



Relatos de pais sobre adolescentes e jovens adultos percebidos como apresentando sinais de início rápido de disforia de gênero